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Enviado por Rafael Velame - 10.5.2019 | 11h45m
De volta aos primórdios: A falácia dos cortes orçamentários, o Bolsonarismo e sua proposta de deseducação

POR LUCAS RIBEIRO - ESTUDANTE DE HISTÓRIA - UEFS 
 
 
Pensar em educação no Brasil se trata de um processo que ao mesmo tempo é fácil e extremamente complexo, pois assim como qualquer estrutura, é formada através de um processo histórico-social. Desse modo a educação superior brasileira surge de uma formação altamente elitista e ao longo desse processo inverte ou pelo menos tenta inverter essa formação, dando espaço a população de baixa renda e excluída da educação e que também constituía um grupo antes pertencente ao analfabetismo. A partir do momento que essa situação é invertida ou reparada há diretamente um confronto a sociedade “elitista” e uma reviravolta nessa estrutura de pensamento, pois o elitismo abrange muito mais uma esfera ideológica do que econômica, desse modo o ataque ideológico ao ensino superior toma forma devido a esse processo “elitista” de fazer e pensar educação no superior no Brasil.
 
As primeiras faculdades e universidades brasileiras surgem ainda dentro desse viés “burguês” provinciano criadas com o intuito de comportar os alunos que eram formados nos maiores centros educacionais do país. No período de 1920 a 1963 são criadas 20 universidades federais no Brasil, até então pouco criticadas e nem atacadas até o surgimento das políticas afirmativas e reparatórias, que surgem com intuito de refazer a composição estudantil até então formada por maioria esmagadora pertencente a classe média alta e branca. Desde então, após a aplicação dos sistemas de cotas no ano de 2000 as universidades aos poucos foram aderindo a esse sistema e possibilitando cada vez mais a ingressão de negros e alunos de escola pública, antes afastados desse ambiente. Antes de atacar esse sistema, é necessário compreender a formação histórica do país, uma colônia e império estruturado em 300 anos de escravidão e sustentado sempre pela “elite” branca privilegiada nunca iria de uma hora para outra anular tal barbárie e formar um estado progressista, igualitário e justo, portanto a esfera educacional brasileira é totalmente um reflexo da sociedade quinhentista que ainda impera na mentalidade das pessoas. No entanto, se a mentalidade permanece com esses padrões obviamente as ações também seguiram esse viés, e ai é que surge esse processo reparatório proposto pelas politicas afirmativas, pois se há instituições públicas destinadas ao povo ela deve sim ser ocupada por todos, mesmo que haja um favorecimento maior para o lado daqueles aparados pelos privilégios.
 
Ao analisarmos esse período de reformulação das universidades públicas percebemos que houve uma mudança drástica na estrutura social brasileira, num aspecto bastante positivo pois tanto a curto prazo quanto longo possibilita uma entrada maior de pessoas antes excluídas desse meio e que a partir desse ingresso o campo social acadêmico se torna múltiplo e variado. A maior variedade de grupos historicamente marginalizados, dentro do ambiente acadêmico possibilita que a interação social, produção de trabalhos e pesquisa ganhem outra forma, uma nova visão de complexidade de acordo com a experiencia de cada um dentro do seu campo social. O campo acadêmico passa a destinar sua produção para a sociedade em si e para aquela antes não vista e nem conhecida, já que antes esse conhecimento produzido acabava sendo limitado a uma classe específica da sociedade e a uma visão linear e mais centralizadas em objetivos comuns.
 
Portanto esse processo aqui citado se torna um grande fator de crítica e de ataque por parte daqueles que estão fora do campo acadêmico e que cultuam a visão de que as universidades públicas devem seguir um padrão já imposto pela “sociedade” do atraso. Trazendo essa questão para os dias que estamos vivendo, esse ataque ideológico movido a partir da visão conservadora quinhentista passa a ser feito pela principal estrutura de administração do estado, ou seja, o governo, que na verdade não assusta ninguém pois isso é apenas um reflexo do que 57,7 milhões de brasileiros pensam ou concordam com essa visão reproduzida pelo governo. Após o anuncio de que 30% das verbas de cada universidade do país iria ser cortada por algum motivo sem pé nem cabeça, nos confirma o desinteresse do governo e de boa parte da população apoiadora do mesmo de que a educação superior pouco importa para o governo, já que mostra posição diferente diante das ideologias políticas e sociais impostas pelo mesmo.
 
Talvez se pensarmos um pouco mais, a balbúrdia citada pelo “Bolsonarismo” dominante se trata muito mais de uma falácia e de um ataque a liberdade estudantil brasileira do que uma veracidade em si. O ataque ideológico provocado pelos insatisfeitos e defendido por esse “Bolsonarismo”, sempre existiu porem calado ao ser beneficiado pelos governos elitistas em detrimento dos menos favorecidos, pois é possível dizer que sempre houve uma tríade por trás de qualquer governo, sendo composta por: presidência, ideologia e elite, desse modo uma funciona em benefício da outra, portanto a partir do momento que houve uma desconexão dessa tríade começa uma indignação geral que inclusive passa a ser reproduzida pela classe menos favorecida “tapeada” pela tríade.  Tal posicionamento comporta um grau de desvio muito maior do que estamos pensando, pois a partir do momento que instituições federais  de ensino superior  do Brasil já em decadência deixam de receber  de 30% a 40% do seu orçamento, se tornam uma ameaça em grandes proporções a todas as esferas que comportam a sociedade, e ainda pior pois o presidente a cargo desse papel passa a adquirir um função totalmente distante do que deveria ocupar. 
 
O que mais nos assusta nessa situação é saber é que a preocupação do governo é algo extremamente banal e não comporta nenhum tipo de defesa a educação, é importante lembrar que as universidades não giram apenas em cima de supostas ideologias, muito mais que isso, as universidades fazem o mundo e boa parte de tudo que é produzido vem dela, porém incomoda ao empresário ver que o filho da empregada estar lá e o dele nem se quer passou no vestibular. No entanto o governo fez o que a elite queria, o que a ideologia elitista pediu e se boa parte deles querem esse desfasamento das universidades é porque nem lá pisaram e muito menos querem que todos pisem.
 
 
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Enviado por Rafael Velame - 2.9.2013 | 15h41m
Humildes: um diálogo sem medo

Por Angelo Almeida*

 
 
Há exatos 81 anos, a Revolta Constitucionalista levou Forças do Governo Provisório, lideradas por Getúlio Vargas, a rechaçar e entrar em guerra contra a intenção de Forças Paulistas em levar adiante um movimento francamente separatista, na tentativa de criar a “República Paulistana”. O Estado de São Paulo era, como ainda é, nosso grande Distrito Industrial.
 
O separatismo era propagado a tal ponto, que ficou registrado em nossa história como pensava  o escritor Monteiro Lobato, um dos apoiadores do movimento:
 
“A atitude única que o instinto de conservação impõe a São Paulo, depois da vitória, deverá expressar-se nesta fórmula: Hegemonia ou separação. [...] Convençamo-nos de que só há dois caminhos na vida: ser martelo ou bigorna, boi de corte ou tigre. Velha bigorna, velho boi de corte, velha vaca de leite, transforme-se São Paulo em tigre. Faça-se todos os dentes e garras afiadíssimas, antes que a linda ideia romântica da brasilidade o reduza a churrasco”.
 
As forças legalistas, lideradas por Getúlio, venceram. E como se vê, São Paulo não foi reduzida a churrasco!
 
Temos em Humildes o nosso Distrito Industrial. Há muito tempo vai e vem essa vontade de levar adiante a ideia da emancipação política e territorial do nosso distrito. Movimentos políticos, audiências públicas, Deputados(as) e pretendentes a Deputados(as) fazem do debate a oportunidade de angariar simpatias e votos, proclamando a separação que, em suas teses, justificam como salutar a ideia encampada.
 
Recentemente, projeto aprovado no Congresso Nacional estabeleceu novas regras para a emancipação. Os critérios ficaram mais claros e objetivos, é verdade. Entretanto, alguns prefeitos já levantam a seguinte questão: 
 
– Se o Fundo de Participação Municipal (FPM) continuará do mesmo tamanho, lógico admitir que a fatia do bolo virá menor, portanto menos dinheiro para os municípios atuais. Se já esta difícil, e o FPM não vem dando conta de atender as demandas ora apresentadas pela sociedade aos gestores municipais, como fechar esta equação? 
 
É criando mais prefeituras, câmara de vereadores, vereadores(as), assessores(as), infraestrutura para atender novas sedes municipais, que vamos resolver o problema? Fato curioso é que estas ideias sempre prosperam e polemizam-se às portas de mais uma eleição, quando deputados e deputadas estão a caça de votos.
 
Tratando dessa questão, ouvi de um amigo um sincero conselho: “Não se meta nisso, tira voto”. Será esse o motivo pelo qual muitos se calam? Não conheço a posição do meu partido, ainda vamos discutir, mas a minha tenho clara. Sou contra. 
 
Tirar dos feirenses seu Distrito Industrial é abrir mão de conquistas que foram tecidas na luta de toda uma sociedade por várias gerações.
 
Quando por decisão política foi escolhida as margens da BR 324 (sentido Salvador) para implantação do nosso Polo Industrial, Feira pagou um preço, que foi a impossibilidade de tocar a sua expansão urbana em direção a nossa capital – caminho natural do desenvolvimento urbanístico.
 
Ademais, é justo admitir que aos nossos distritos faltam acesso à saúde, educação, transporte, lazer e serviços de qualidade. É dever dos governantes entregar estes serviços, é dever do nosso povo a cobrança constante por uma vida digna e sustentável nas comunidades rurais e urbanas. 
 
A pretensão de resolver os problemas da comunidade de Humildes retirando a cereja do bolo dos feirenses, perdoem-me, não é justa! Retalhar Feira não é a solução. Conquistar políticas públicas que nos tragam avanços sociais e econômicos, com consequente bem estar social, é uma tarefa que cabe a todo o povo feirense. Como? Através da cobrança, da fiscalização, do acompanhamento das realizações do governo municipal. Não existe solução mágica, nem tão pouco, criar um novo governo pode ser apresentada como uma. Aqui vai uma sugestão: Porque todas essas forças empenhadas na emancipação não se unem com a comunidade de Humildes e outros distritos para cobrar melhorias dos nossos governos? Mudanças de gestão e transformação social, é o que precisamos. É o que Humildes precisa, é o que Feira precisa.
 
Cerca de 150 novas cidades podem ser criadas no Brasil a partir das novas regras. 
Para tanto, terão que fazer um plebiscito com os moradores da localidade e do município do qual querem se separar. Senhoras e Senhores, acordem, o sonho que levam ao povo de Humildes a ideia de que essa separação vai adiante, não é justo. É preocupante que estejam vendendo esse sonho para trabalhadores e trabalhadoras que merecem nosso respeito e que amam tanto Humildes , quanto Feira de Santana.
 
Esta próxima a hora em que políticos(as) desfilarão por Humildes vendendo o que não têm para entregar. Tenho a dimensão dos riscos e dos ataques que virão, mas não faltarei para com a realidade da verdade, muito menos tenho vocação para o oportunismo.
 
O diálogo que acredito que deva ser aberto é o quanto Feira é importante para Humildes e Humildes para Feira, como parte, como inteiro. Sem analisar isoladamente apenas as possíveis vantagens unilaterais de uma emancipação. Afinal, somos todos feirenses unidos na busca de condições de vida cada vez melhores para todos e todas.
 
*Angelo Almeida é ex-vereador pelo PT de Feira de Santana
 
 
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Enviado por Rafael Velame - 30.11.2012 | 11h33m
Como entrevistar Yoani Sanchez

Como entrevistar Yoani Sanchez
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Por Rafael Velame

Nossa história com Yoani Sanchez começou em 2010, quando estivemos em Cuba pela primeira vez. Diante do que vimos, passamos a admirá-la ainda mais pela coragem de enfrentar um regime tão repressor, que é a revolução de Fidel Castro, iniciada em 1958. Na época éramos cinco: eu, os médicos Haroldo Dourado , Luiz Carlos Fernandes e César Oliveira  com seu filho, o estudante de medicina Atila Oliveira. Voltamos de lá encantados com a beleza do lugar e espantados com a falta de liberdade de um povo tão educado e hospitaleiro, que sobrevivia com salário máximo de 30 dólares.  Decidimos então, procurá-la em uma próxima viagem ao local, para quem sabe, entender melhor o povo da “ilha de Fidel”. Em 2011, voltamos a Cuba e o grupo passava a contar com mais dois integrantes: o vereador Angelo Almeida e o publicitário Xiko Melo. Infelizmente, nessa viagem não conseguimos contato com Yoani e planejamos o encontro para o ano de 2012. A ideia era planejar tudo antes mesmo de sair do Brasil.  A expedição passou a contar com mais três membros: o advogado Rafael Cordeiro, o ex-deputado Humberto Cedraz e o bioquímico Herminio Seixas. O primeiro passo foi procurar Dado Galvão, autor do documentário Conexão Cuba-Honduras, no qual Yoani é uma das personagens. Foi Dado quem nos colocou em contato com a blogueira cubana e nos deu a incumbência de entregar uma carta e cartazes do documentário. Durante as conversas com Dado surgiu a ideia de doar passagem para que Yoani viesse ao Brasil participar do lançamento do filme. Dado já fazia, através da internet, uma “vaquinha” com o objetivo de arrecadar dinheiro para trazê-la. Juntamos a fome com a vontade de comer. O plano de encontrar Yoani estava traçado: a encontraríamos para uma entrevista, entregaríamos as encomendas de Dado e as passagens para que ela viesse ao Brasil. Quais os riscos disso? Dado contou que chegou a ser interrogado pela polícia política cubana quando filmou o documentário. Mas, estávamos dispostos a correr o risco de uma possível interferência do governo cubano, pois achávamos que o máximo que poderia nos acontecer era que tomassem nossos equipamentos de filmagens e telefones celulares. César era o mais realista e, em tom de brincadeira, mas com um fundo de verdade, sempre alertava para o pior. “Estão prontos para serem pressionados?”, perguntava. Eu ria, todos riam. Sob uma possível tortura, o mesmo César revelou que não aguentaria nem que apertasse o abcesso do seu polegar, quiçá algo mais malvado. A principal preocupação de Xiko era com sua Canon recém comprada no Panamá justamente para a ocasião. “Se tomarem minha câmera eu mato vocês”, alertava.  Em verdade, usávamos o humor para disfarçar a ameaça latente e não voltar atrás na decisão já tomada. 
A CHEGADA
Chegamos a Cuba no dia 17 de novembro depois de dois dias no Panamá. Estávamos mal-acostumados com o luxo da Dubai das Américas e logo no aeroporto tivemos que nos adaptar a realidade cubana. Fila na imigração, demora na entrega das malas, enfim, o aeroporto José Martin é completamente ultrapassado. A alfândega para piorar o clima, foi bastante dura e tivemos que abrir pasta por pasta de dente e shampoo, que levamos para distribuição. Até então, o assunto Yoani era tratado com certa desconfiança, a maioria dos viajantes não acreditava que conseguiríamos. Nos primeiros dias em Cuba entre passeios turísticos, mojitos, piña-coladas, cafés e muita cerveja Bucanero, planejávamos a estratégia do encontro.
A ESTRATÉGIA
Para que o encontro com Yoani fosse o menos perigoso possível, decidimos que iríamos encontrá-la na véspera da viagem de volta ao Brasil, se possível em um ambiente neutro no qual chegaríamos antes e sairíamos duas horas depois dela.  Pediríamos ajuda a um cidadão cubano comum. Elegemos uma simpática guia, que conhecemos na viagem anterior, como a pessoa que nos levaria até a casa da blogueira. Mas depois de acertar tudo, receber o adiantamento, e mostrar entusiasmo, ela que se chamava Cheila (com CH mesmo), nos causou o primeiro imprevisto. Após Cheila ligar para casa de Yoani e avisar que já estávamos em Havana, ela simplesmente desapareceu  e não deu mais notícias.  Foi o nosso primeiro susto e teve gente que até pensou em desistir após o sumiço da nossa “aliada”. “O governo tem o telefone de Yoani grampeado e rastreou a ligação dela”, diziam. Mas, preferimos acreditar que ela tinha se dado conta do risco que correria e não teve coragem de nos comunicar, por isso, sumiu. Afoito, Angelo era o mais ansioso e vivia me instigando para que fossemos logo, sem muito planejamento. Consultei César e decidimos que iríamos de táxi, apenas com o endereço em mãos. Ao invés de sábado (24), véspera do nosso retorno, iríamos na sexta-feira (23), para termos chance de correção, se houvesse alguma falha. A ideia era visitar antes a casa em que viveu o escritor Ernest Hemingway. Enquanto isso, íamos conversando com diversas pessoas sobre localização, distância meios de acesso, interpretação de endereços, segurança de telefones, criando uma imagem geral da situação e passamos de bici-táxi, o táxi de bicicleta cubano, em frente a embaixada brasileira para eventual necessidade. Decidimos não fazer nenhum aviso prévio da visita.
O CAMINHO
Na sexta-feira, após visitar a casa de Hemingway e almoçar no bicentenário restaurante Los Nardos, voltamos ao hotel para preparar as câmeras e pegar o material que seria entregue a Yoani. Sairíamos as 15h para o encontro. Tomei banho e desci para o saguão do hotel. César, que dormia no sofá após o almoço e Angelo, com sua inseparável boina de Che Guevara, já me aguardavam no local. Xiko ainda preparava as câmeras no quarto e desceu 20 minutos depois. Estávamos atrasados e não queríamos que a entrevista acabasse depois do Sol se por. Apreensivos, saímos os quatro a caminho da casa de Yoani.  Caminhamos do hotel Ambos Mundos até a Praça das Armas, onde existe uma feira de livros ao ar livre e é possível encontrar tudo sobre José Marti (o herói da independência cubana) e - obviamente - livros sobre a Revolução de Fidel, a maioria sobre Che Guevara. Tive uma sensação estranha, de que estávamos sendo vigiados por eles através dos livros. Na Praça, ficam os táxis. O primeiro taxista que mostramos o endereço, sem muitas explicações se recusou a nos levar. O segundo atendeu o chamado de pronto, mas com dificuldade de achar o prédio nos deu um susto: pediu informação a um militar sobre o endereço de Yoani. Por sorte, ele nos ensinou o caminho e enfim, estávamos no destino.  “Logo na nossa vez”, ironizava César sobre a estranha ajuda do militar. Deixamos o táxi na porta, acenando com uma recompensa, pois não queríamos sair ao esmo em área relativamente deserta e com material tão importante.
A UM PASSO
Yoani mora no 14º andar de um prédio onde o elevador só sobe até o 13º. Entramos no elevador desconfiados, sob a suspeita de que estávamos sendo observados. César, com toda sua astúcia e experiência, de pronto apertou o 7º andar, segundo ele, pra disfarçar nosso real destino. Depois, fomos ao 13º, subimos um lance de escada e lá estávamos no corredor da casa de Yoani. Mas como identificar o apartamento? Angelo foi rápido e logo viu um adesivo na porta onde estava grafado “Internet para todos”. Estávamos a um passo do encontro. 
O ENCONTRO
Quem nos recebeu foi Reinaldo Escobar, marido de Yoani.  A famosa blogueira cubana apareceu cerca de um minuto depois e com a típica simpatia do povo cubano, foi logo nos deixando à vontade.  Entregamos os objetos enviados por Dado. Deixamos a entrega da passagem para o final. O apartamento é bastante modesto. Sentamos ao redor de uma mesa na sala que tinha uma bela vista para Havana. César deu início e conduziu o bate-papo. Quase uma hora e meia de conversa, onde vários temas foram tratados: a atual decadência do poder de Fidel, a teoria da dependência de Raul dos EUA, a falsa impressão sobre os modelos de saúde e educação de Cuba. Foram muitas reflexões e opiniões. Para uma jovem de aparência frágil, a autora do blog Geração Y fala com muita segurança e equilíbrio. Não hesita em contestar a maneira de governar dos irmãos Castro. Yoani é puro amor a sua pátria. Xavito, o cachorro de Yoani, vez ou outra interrompe a entrevista para receber um cafuné. Yoani relembrou o tempo de criança e de quando descobriu que tudo aquilo que acreditava, era ilusão. “Quando cresci, me perguntava onde estava aquela Cuba que via na televisão. Fui enganada pela revolução”, revelou.  No fim da conversa, pedimos para que ela enviasse uma mensagem ao mundo sobre a luta pela liberdade de expressão. Ela o fez de forma emocionante.  Nosso poeta, César, que normalmente define as situações com frases de efeito, desta vez, trocou a típica frase pelas lágrimas. Chorou. Tentou disfarçar, mas não tinha como. Foi marcante. A entrevista na íntegra com Yoani Sanchez será publicada na próxima edição do Tribuna Feirense. 
O PRIMEIRO SUSTO
Antes de sair da casa de Yoani, perguntei a ela, se a visita nos oferecia algum risco. 
 - Vou ser sincera. Estar aqui sempre é um risco, eu assumo o meu, vocês devem também assumir o de vocês. Meu telefone é vigiado. Mas digam que é um encontro de amigos, sem nenhuma conspiração, nada,  avisou. 
Na hora, nos entreolhamos e tivemos medo de sair, mas não tinha jeito. Fizemos de conta que estava tudo bem e então partimos rumo a escada e ao elevador. Nesse trajeto, perguntei a todos se não haviam esquecido nada no apartamento, ninguém se manifestou. Descemos achando que o táxi que nos esperava já tinha ido embora diante da demora, mas por sorte, lá estava ele. “Tenho palavra”, disse ao ver nossa surpresa por ainda encontra-lo. Entramos apressados no táxi e uns 2 km depois já comemorávamos  nosso feito. Ledo engano. Era cedo demais. Próximo a Praça da Revolução, o distraído Angelo se deu conta de que havia esquecido a mochila no apartamento. Na hora, eu , César e Xiko queríamos esganá-lo. Voltar e arriscar tudo de novo? Sim. Mas, por medo de perder tudo que foi filmado, já que gravamos em equipamentos diversos, por segurança preferimos ficar na Praça da Revolução enquanto Angelo voltava com o paciente taxista para buscar seus pertences.  Quinze minutos depois, Angelo estava de volta com um saco de pão na mão e nos contava do susto que levara. Ao chegar no prédio de Yoani, ouviu um apito e gelou de medo. Mas, por sorte não era a polícia politica e sim um vendedor de pão numa bicicleta. “Comprei o pão só pelo alívio de ver que não era polícia”, disse dando gargalhadas. Todos juntos de novo no táxi, seguimos de volta ao hotel, mastigando o pão com gosto de missão cumprida.
O SEGUNDO E ÚLTIMO SUSTO
Após o encontro, a noite do dia 23 seria de comemoração. Combinamos o restaurante do hotel Iberostar que fica no centro de Havana Vieja. Todo o grupo iria, mas de última hora Luiz Carlos, o Lula, teve uma indisposição e resolveu ficar no hotel. Fomos os nove para o jantar, comemos muito bem, bebemos os vinhos que tinham sido comprados no Panamá, eu estava me deliciando com uma sobremesa, quando César recebeu um telefonema.  Ficou pasmo, e por tabela, deixou todos da mesa também. Era Lula, dizendo  estar detido no hotel e que era para procurarmos um lugar pra se esconder. Na hora não acreditei, mas Lula não era de brincadeiras, ainda mais desse tipo. Ligamos pra ele  e não conseguimos, tentamos o hotel e nada, nenhum contato. A essa altura, já nos sentíamos presos políticos. Eu ria, de nervoso, mas ria. Angelo então anunciou a decisão: iriamos eu, ele e Xiko ao hotel averiguar a situação. Xiko preferiu ficar. Fomos apenas eu e Angelo. O restaurante ficava a aproximadamente dois quilômetros do hotel. Fomos a pé, rindo da situação, da cara de aflição dos que ficaram no restaurante. Humberto resmungava com cara de pavor. “Foram brincar com o poder de um governo”, reclamava. Herminio não queria nem segurar meu celular. “Vou ficar com a prova na mão”, bradava. Pálido, Rafael Cordeiro não conseguia sequer falar. Atila queria beber a garrafa de rum recém comprada. O resto era puro medo.  No caminho também planejávamos o que fazer e pra quem ligaríamos, caso fosse verdade. Ao chegar na frente do hotel, avistamos dois homens com rádios de comunicação nas mãos, passamos direto. De longe, avistei que eram os seguranças do hotel e voltamos. Entramos e nada de anormal podia ser visto. Fomos direto aos nossos quartos. À primeira vista, estava tudo intacto. Alívio geral. Fomos então ao quarto de Lula, e lá estava ele, tranquilo, rindo da nossa cara. Minha reação foi, ao invés de brigar, cair em gargalhada junto com Angelo. Nosso susto havia acabado, mas o dos que estavam no restaurante, apenas começava. Angelo decidiu continuar a brincadeira e enviou um torpedo a Haroldo avisando que o hotel estava cercado e não tínhamos entrado, voltaríamos ao restaurante. Foi então que lembrei que havia deixado meu telefone com Xiko e avisado pra apagar tudo caso não voltássemos em 40 minutos ou se “desse merda”. Caso a “pegadinha” continuasse, renderia a perda da gravação do áudio da entrevista com Yoani que estava no meu celular. Saí feito um louco descendo as escadas do hotel e corri. Passei em frente ao Floridita, bar onde Hemingway tomava seus daiquiris nos anos 30 e, todo suado, percebi que todos na porta me olharam. Tinha que correr até o restaurante para desfazer a brincadeira a tempo.  Por sorte, consegui e cheguei quando todos estavam entrando um táxi rumo ao consulado brasileiro. Salvei os arquivos do meu celular e os meus “ocho más” amigos da tensa brincadeira, que por pouco não foi verdade.  No dia seguinte, a saída do país também foi tensa, pois temíamos ser abordados, mas nada aconteceu. Mas livres mesmo, só nos sentimos, ao pousar no Panamá. E como bem escreveu César Oliveira: “Após a terceira viagem a Cuba, temos cada vez mais a certeza que a ilha não pode ser só poesia y silencioso desespero”. 

 Matéria originalmente publicada no jornal Tribuna Feirense edição 30/11/2012.
 
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