Se entre os dias 14 e 18 de outubro a cidade de Cachoeira no Recôncavo Baiano há de respirar literatura sob muitas perspectivas e temáticas, a abertura da Flica não poderia começar de outra forma que não falando sobre gentes. São os olhos jornalístico-objetivos e literário-românticos de Igor Gielow e Antônio Torres que darão a tônica da primeira mesa literária, às 19h, do dia 14 de outubro. No agitado mundo das redações, vivido por Antônio Torres e Igor Gielow em tempos diversos, as gentes passam apressadas. Ali, as letras têm pressa em traduzi-las, tendem a cuidar apenas de registrá-las. Não será o caso de um e de outro, fascinados pelo profundo de cada história, sempre pessoal, não há fatos sem gentes. Torres, antes das redações, contava histórias de viventes de sua terra, Junco, no nordeste baiano, escrevendo cartas dos que não o sabiam fazer a parentes. Do fascínio pelas histórias, num caso e noutro, brotaram os romances, o acrescentar algo mais a histórias que por vezes nas redações se apresentam incompletas. Ainda mais incompletas nos cenários de coberturas de guerra, em lugares tensos como o Paquistão e o Afeganistão, cenários caros a Igor Gielow, contador de histórias internacionais, como Antônio Torres, que do sertão trafegou para o urbano e para o global, movido pelas mesmas carências, pelos mesmos impulsos. Como jornalistas, o texto literário a ultrapassar o mero registro. Como romancistas, o compromisso com a verossimilhança do elemento gente personagem; com o elemento gente leitor através do texto fluido e ao mesmo tempo sedutor, a conduzir e abraçar não para manipular, mas para dizer “estou aqui”. Antônio Torres é homenageado da edição, baiano a orgulhar o estado berço das letras brasileiras na cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. A presença de Igor Gielow, jovem aprendiz perto dele, mas aprendiz aplicado, excelso, é-lhe parte da homenagem. São diversos no tempo e nos espaços, nos temas e ritmos, porém muito mais os une do que os separa. São dois exemplares (in) comuns de gentes brasileiras, nunca se colocaram fora desse existir, pois o veem como imensamente rico, talvez mais rico do que eles próprios, um tanto alienados pelo mundo das redações, das escritas, do necessário registro. Humildes gentes, esses dois brasileiros Antônio e Igor, a tratar do tema mais caro à Flica, o mais nobre, o mais sublime: narrar as gentes, buscando nelas o que não revelam nem a si mesmas. É uma mesa comum para nós da Flica, tão comum que as demais não a alcançam, por isso abre esta 5ª edição com a mediação de Jorge Portugal.
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