O Blog do Velame entrevistou o “quarto” candidato a prefeito de Feira de Santana. Muito se fala em Tarcízio Pimenta (PDT), Zé Neto (PT) e José Ronaldo (DEM), mas o candidato do PSOL, Jhonatas Monteiro também se diz apto a assumir a prefeitura de Feira. “Nós estaremos presentes, como sempre fazem as candidaturas socialistas, para qualificar o debate e muitas vezes “colocar o dedo na ferida” que os outros candidatos fingem não existir”, disse.
1 - Qual principal bandeira do PSOL nesta eleição?
JM- A principal bandeira do PSOL é “desprivatizar” a política de Feira de Santana, ou seja, fazer com que o debate político da cidade não se resuma a essa “pequena política” que vemos a décadas: grupos políticos que se alternam no poder deixando de lado os interesses da maioria da população feirense, como é perceptível na absurda situação do transporte coletivo no município. Dessa forma, pretendo afirmar na campanha que um projeto democrático e popular para Feira, que priorize a maioria em sua diversidade, é não só necessário como possível.
2 - Por que resolveu se lançar candidato pelo PSOL?
JM - O nosso partido é de esquerda e, mais que isso, reivindica o socialismo como uma alternativa de sociedade, o que implica também que o método de decisão política deve ser diferente daquele utilizado nos partidos da “velha política”. Nestes últimos, no geral, as pessoas se candidatam por conveniência pessoal e interesse dos seus financiadores. No nosso caso, a deliberação de uma candidatura é coletiva, baseada na coerência da trajetória pessoal com o projeto a ser defendido nas eleições. Foi nesse sentido que os companheiros e companheiras deliberaram pelo meu nome para representar uma alternativa em outubro.
3 - Jhonatas: defina-se?
JM - Alguém que por ter crescido onde cresci, a Queimadinha, transformou a convivência com a injustiça social em motivação para atuação política socialista.
4 - Qual avaliação que você faz sobre os outros três candidatos, Zé Neto, Zé Ronaldo e Tarcízio?
JM - Creio que nenhum dos três foge às práticas costumeiras da “velha política” que domina o município, como é possível perceber de maneira evidente na discussão sobre as coligações de cada um deles: em nenhum dos casos, a escolha dos apoios se deu por questões político-ideológicas ou alternativas para os grandes problemas de Feira, mas apenas pelo tempo de TV, pelo número de cabos eleitorais, pelo dinheiro que esse ou aquele trará para a campanha, pelos cargos que ganharão, entre outras barganhas. É difícil imaginar que candidatos tão viciados possam trazer, sob uma perspectiva democrática e popular, qualquer novidade.
5 - Como o seu partido tem pouco tempo de tv, você acredita que os debates serão a melhor maneira de se apresentar aos eleitores?
JM - Sem dúvida, os debates entre os candidatos são momentos privilegiados para que os eleitores compreendam, se não as propostas, ao menos a postura de cada um deles. Assim, esperamos que os outros candidatos não fujam dos debates organizados pela sociedade e meios de comunicação. Nós estaremos presentes, como sempre fazem as candidaturas socialistas, para qualificar o debate e muitas vezes “colocar o dedo na ferida” que os outros candidatos fingem não existir. Contudo, esperamos fazer uma campanha bastante sintonizada com a colaboração direta dos eleitores através das redes sociais e, é claro, também teremos atividade de corpo a corpo com a população.
6 - Como você vê o tratamento que o governo estadual tem dado aos professores grevistas?
JM - Como o pior possível. Afinal, a reivindicação do professorado é mais que justa: ela é plenamente legal já que o piso é previsto em lei e o seu reajuste também é regulamentado legalmente. O líder do governo, o deputado Zé Neto, tem se sujeitado a defender o indefensável: sem qualquer abertura séria das contas estaduais, dizer que o governo não pode pagar! O curioso é que outros estados que passaram pela mesma dificuldade alegada pelo governo Wagner abriram suas contas para receber complementação do MEC, algo previsto na própria lei do piso salarial. No entanto, a posição do governo Wagner é a mesma que se viu no caso da também legítima greve dos policiais militares: primeiro fingir que o problema não existe, depois iniciar uma série de retaliações sobre a categoria e, em paralelo, tentar desinformar sistematicamente a população para jogá-la contra os grevistas. Como bem sei, enquanto professor em greve, a posição do governo nunca foi nem parecida com “diálogo”, uma vez que a negociação está suspensa e Wagner tenta “derrotar” a greve através da opinião pública mesmo ao custo do sacrifício dos alunos e do professorado.
7 - Na sua opinião qual o maior problema atualmente da cidade de Feira de Santana e como você combateria, caso eleito?
JM - Se for na perspectiva estrutural, a principal questão de Feira de Santana é inexistência de um planejamento democrático que ordene o desenvolvimento do município em consonância com as necessidades populares, articulando os aspectos essenciais de mobilidade, habitação, meio ambiente e infra-estrutura de serviços. Como é de amplo conhecimento público, a inexistência de um plano diretor se deve ao perfil autoritário da gestão de Zé Ronaldo, que tentou impor sobre a sociedade um PDDU que descumpria os requisitos legais mínimos de participação popular. O resultado prático é que, felizmente, esse plano absurdo foi embargado, mas a gestão de Tarcízio Pimenta apenas empurrou “com a barriga” o problema e nesse meio tempo vários problemas do município se agravaram. Nesse caso, uma solução simples seria a elaboração, com ampla participação da sociedade civil, de um plano diretor que atendesse a uma série de dispositivos democratizantes já previstos no Estatuto da Cidade e que dialogasse genuinamente com a perspectiva que a cidade é da maioria que a constrói com seu trabalho. Porém, do ponto de vista da vivência mais imediata do povo, é verdade que o transporte coletivo é o problema mais agudo de Feira porque a má qualidade do serviço afeta a própria dinâmica econômica municipal, sobrecarrega ainda mais o orçamento das famílias trabalhadoras e restringe a vida cultural ao negar a circulação democrática das pessoas pela sua própria cidade. Assim uma prioridade de governo seria um conjunto de medidas para resolver essa situação: revisar os termos do contrato com as empresas, baixar imediatamente a tarifa que é injustificada, dobrar a frota, informatizar o sistema de horários e linhas, redesenhar as linhas no sentido bairro-bairro, criar integração temporal e entre os modais, democratizar a composição do conselho municipal estão entre as principais soluções de curto e médio prazo. Por sua vez, é necessário também estimular a mobilidade não motorizada através de uma política sistemática de passarelas, calçadões, ciclovias e ciclofaixas entre outras medidas. As metas e mecanismos de melhoria da mobilidade seriam consubstanciados em um plano municipal de mobilidade, instrumento já previsto em legislação federal. Mas é claro, que pensando o município de maneira integrada, outras questões também são prioritárias porque interferem diretamente na qualidade de vida da população, como é o caso da saúde ou da política cultural.
8 - É a favor da legalização do aborto e da maconha?
JM - Essas questões remetem ao debate nacional de democratização da sociedade brasileira, mas é importante que também apareçam nas discussões locais para dirimir preconceitos. Programaticamente o PSOL defende a legalização de ambos, embora por serem questões de natureza diversas envolvem justificativas também diferentes. O aborto não deve ser criminalizado e considerado prática ilegal, pois isso acarreta anualmente a morte ou sequelas físicas e psíquicas graves para milhares de mulheres pela ausência de atendimento adequado de saúde para essa situação. Além disso, há também o direito da mulher sobre o próprio corpo, aspecto fundamental de qualquer regime democrático efetivo. Por sua vez, a legalização da maconha se relaciona com o enfraquecimento do poder do tráfico de drogas sobre uma substância de amplo consumo social, o combate ao uso do proibicionismo como justificativa para a repressão seletiva sobre jovens pobres, especialmente negros, e também o direito de escolha do cidadão sobre seus estados de consciência. Em ambos os casos, não se trata de uma “apologia”, como habitualmente se tenta desqualificar, mas do reconhecimento que não se abole práticas sociais “por decreto” e que a proibição como política pública geralmente fracassa porque, via de regra, se baseia mais estereótipos do que em compreensão da realidade. Não à toa, até políticos conservadores, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, reconhecem que a estratégia internacional adotada em diversos países de “guerra às drogas” fracassou justamente por isso.