Por Angelo Almeida*
Há exatos 81 anos, a Revolta Constitucionalista levou Forças do Governo Provisório, lideradas por Getúlio Vargas, a rechaçar e entrar em guerra contra a intenção de Forças Paulistas em levar adiante um movimento francamente separatista, na tentativa de criar a “República Paulistana”. O Estado de São Paulo era, como ainda é, nosso grande Distrito Industrial.
O separatismo era propagado a tal ponto, que ficou registrado em nossa história como pensava o escritor Monteiro Lobato, um dos apoiadores do movimento:
“A atitude única que o instinto de conservação impõe a São Paulo, depois da vitória, deverá expressar-se nesta fórmula: Hegemonia ou separação. [...] Convençamo-nos de que só há dois caminhos na vida: ser martelo ou bigorna, boi de corte ou tigre. Velha bigorna, velho boi de corte, velha vaca de leite, transforme-se São Paulo em tigre. Faça-se todos os dentes e garras afiadíssimas, antes que a linda ideia romântica da brasilidade o reduza a churrasco”.
As forças legalistas, lideradas por Getúlio, venceram. E como se vê, São Paulo não foi reduzida a churrasco!
Temos em Humildes o nosso Distrito Industrial. Há muito tempo vai e vem essa vontade de levar adiante a ideia da emancipação política e territorial do nosso distrito. Movimentos políticos, audiências públicas, Deputados(as) e pretendentes a Deputados(as) fazem do debate a oportunidade de angariar simpatias e votos, proclamando a separação que, em suas teses, justificam como salutar a ideia encampada.
Recentemente, projeto aprovado no Congresso Nacional estabeleceu novas regras para a emancipação. Os critérios ficaram mais claros e objetivos, é verdade. Entretanto, alguns prefeitos já levantam a seguinte questão:
– Se o Fundo de Participação Municipal (FPM) continuará do mesmo tamanho, lógico admitir que a fatia do bolo virá menor, portanto menos dinheiro para os municípios atuais. Se já esta difícil, e o FPM não vem dando conta de atender as demandas ora apresentadas pela sociedade aos gestores municipais, como fechar esta equação?
É criando mais prefeituras, câmara de vereadores, vereadores(as), assessores(as), infraestrutura para atender novas sedes municipais, que vamos resolver o problema? Fato curioso é que estas ideias sempre prosperam e polemizam-se às portas de mais uma eleição, quando deputados e deputadas estão a caça de votos.
Tratando dessa questão, ouvi de um amigo um sincero conselho: “Não se meta nisso, tira voto”. Será esse o motivo pelo qual muitos se calam? Não conheço a posição do meu partido, ainda vamos discutir, mas a minha tenho clara. Sou contra.
Tirar dos feirenses seu Distrito Industrial é abrir mão de conquistas que foram tecidas na luta de toda uma sociedade por várias gerações.
Quando por decisão política foi escolhida as margens da BR 324 (sentido Salvador) para implantação do nosso Polo Industrial, Feira pagou um preço, que foi a impossibilidade de tocar a sua expansão urbana em direção a nossa capital – caminho natural do desenvolvimento urbanístico.
Ademais, é justo admitir que aos nossos distritos faltam acesso à saúde, educação, transporte, lazer e serviços de qualidade. É dever dos governantes entregar estes serviços, é dever do nosso povo a cobrança constante por uma vida digna e sustentável nas comunidades rurais e urbanas.
A pretensão de resolver os problemas da comunidade de Humildes retirando a cereja do bolo dos feirenses, perdoem-me, não é justa! Retalhar Feira não é a solução. Conquistar políticas públicas que nos tragam avanços sociais e econômicos, com consequente bem estar social, é uma tarefa que cabe a todo o povo feirense. Como? Através da cobrança, da fiscalização, do acompanhamento das realizações do governo municipal. Não existe solução mágica, nem tão pouco, criar um novo governo pode ser apresentada como uma. Aqui vai uma sugestão: Porque todas essas forças empenhadas na emancipação não se unem com a comunidade de Humildes e outros distritos para cobrar melhorias dos nossos governos? Mudanças de gestão e transformação social, é o que precisamos. É o que Humildes precisa, é o que Feira precisa.
Cerca de 150 novas cidades podem ser criadas no Brasil a partir das novas regras.
Para tanto, terão que fazer um plebiscito com os moradores da localidade e do município do qual querem se separar. Senhoras e Senhores, acordem, o sonho que levam ao povo de Humildes a ideia de que essa separação vai adiante, não é justo. É preocupante que estejam vendendo esse sonho para trabalhadores e trabalhadoras que merecem nosso respeito e que amam tanto Humildes , quanto Feira de Santana.
Esta próxima a hora em que políticos(as) desfilarão por Humildes vendendo o que não têm para entregar. Tenho a dimensão dos riscos e dos ataques que virão, mas não faltarei para com a realidade da verdade, muito menos tenho vocação para o oportunismo.
O diálogo que acredito que deva ser aberto é o quanto Feira é importante para Humildes e Humildes para Feira, como parte, como inteiro. Sem analisar isoladamente apenas as possíveis vantagens unilaterais de uma emancipação. Afinal, somos todos feirenses unidos na busca de condições de vida cada vez melhores para todos e todas.
*Angelo Almeida é ex-vereador pelo PT de Feira de Santana